DE FRASES QUE ME MOVEM PENSAMENTOS E VIDA

De frases que me movem pensamentos e vida

Algumas frases podem nos elevar às potências do pensamento e da vida, despertando suas forças quando adentram a real densidade dos contextos e das experiências pessoais. É por isso que se critica tanto a ambiência criada pelos livros de autoajuda, que pouco ultrapassam o caráter de bulas ou fórmulas, criando enredos superficiais e efêmeros. Há diversas formas de viver de modo pleno pensamentos e experiências de vida. Contudo, aprender a refletir sobre o mundo e a cuidar de si envolve sempre um exercício contínuo de reflexões e gestos edificantes. Exige entrar em diálogo com as formações éticas e políticas do presente, assim como com as de outras épocas e povos.

A transmissão da cultura na história ocidental foi uma tarefa árdua e, ao fazermos julgamentos, percebemos que, em determinadas épocas, suas diversas expressões levaram tanto à decadência quanto à elevação do caráter dos indivíduos. A maturidade surge com a oportunidade de realizar julgamentos, desvios e outras escolhas de pensar e agir em relação à cultura. Ora, maturidade não se confunde com vida senil e resignada, como muitos pensam. Sobre esse assunto, trago comigo uma frase inspirada na minha experiência com a obra de Foucault: “A cultura deve dar a chance de o indivíduo poder transformá-la”. Só por pura ingenuidade poderíamos crer que indivíduos possam ser “autossuficientes”, completos, a partir da simples “absorção” da cultura.

A vida é aprendizado contínuo e transformativo; a educação não tem ponto final. A vida não é um simples processo evolutivo: é transformacional, é individuação. “A vida só é possível reinventada”, diz um poema de Cecília Meireles, que ensina que uma das belezas do ser humano está na oportunidade de, em qualquer cultura, aperfeiçoar continuamente pensamentos e gestos.

Sigo, então, afirmando que a vida, de outra maneira, não pode ser desvencilhada de um sentido profundo daquilo que denominamos “cultura material”, ainda mais hoje. “A essência do humano não é senão técnica”. Tal frase do filósofo Bernard Stiegler nos ensina que a técnica é a vida que se desenrola por outros meios. É uma lição filosófica que intriga e politiza, pois aqui “técnica” significa exatamente o mundo ao nosso redor que normalmente chamamos cultura ou memória.

O significado da memória humana não é apenas genético, mas também psicológico e tecnológico. A técnica não é um simples “mecanismo”, mas a exteriorização da memória, ou, em outras palavras, cultura. A memória técnica é aquilo que permanece enquanto nós perecemos. Quão político se torna, portanto, pensar sobre isso! O que permanece? Por quê? De que forma? A formação e o futuro de nossa cultura, de nossos pensamentos e gestos, estão “em jogo” atualmente nas memórias técnicas de livros, filmes, registros de música etc., que se multiplicam, modificam o mundo e perduram.

A cultura manifesta-se, assim, nas técnicas de armazenamento da memória escrita, da imagem e do som. Durante muito tempo, o pensamento de grandes homens foi preservado na forma escrita, essa grande tecnologia criada pelo homem. O mundo moderno assistiu à proliferação de outros modelos de memória, analógicos e digitais, e, portanto, de outras formas e práticas pedagógicas muito mais complexas, abrindo-nos para a discussão de uma “política da memória”, essencial para aquilo que chamamos cuidado de si hoje.

Em belas frases e aforismos, Nietzsche orientava que a memória ou o esquecimento podem ser sinônimos de alegria ou dor. Podemos — e devemos — buscar o exame das memórias que valem a pena, praticando a política da rememoração, sem nos enganar: “Aquele que mente a si mesmo e escuta sua própria mentira chega ao ponto de não mais distinguir a verdade, nem a si, nem em torno de si; perde, portanto, o respeito de si e dos outros” (Zózima, em Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski).

“We must be strong”, mostra-nos o personagem David Copperfield, de Charles Dickens, revelando que ser forte significa ter a coragem de viver os inevitáveis mistérios da vida. Coragem necessária, uma vez que: “Só existe um caminho: procurar a si mesmo” (Rilke)… Frases, contextos, experiências, pensamentos, gestos, vida — potência, potência! Vida, vida! — que me guiam no desejo de me constituir e me apresentar de forma mais intensa e amável.

“O que me surpreende é que, em nossa sociedade, a arte só tenha relação com os objetos e não com os indivíduos ou com a vida. A vida de todo indivíduo não poderia ser uma obra de arte?” (Foucault).