[Tradução] – McKENZIE WARK, “A CLASSE VETORIALISTA”

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A CLASSE VETORIALISTA

McKENZIE WARK

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Originalmente publicado, em duas partes, em:

E-flux Journal, issue 65, May-August, p. 1-8, 2015 [1°parte]; E-flux Journal, issue 70, February, p. 1-6, 2016 [2° parte].

Tradução: Ednei de Genaro

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McKenzie Wark - Vetorialist Class

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“Tudo que é sólido se desmancha no ar, tudo o que é sagrado é profanado”[1]. Claro, muito da reverberação dessa frase é um artifício de tradução: “Alles Ständische und Stehende verdampft”: Tudo o que persiste evapora-se em afirmações. Essa foi a frase emocionante de Marx sobre como a forma mercadoria incendeia o mundo, vaporizando as velhas formas sociais e normas, de maneira que modos de vida inteiros e suas correspondentes visões de mundo, uma após outra, se desfazem em fumaça. Tal é a grande história-lenda do capitalismo, como todos concordam denominar hoje. Seus fanboys agora celebram inclusive a tocha niilista, rebatizada de disrupção.

Para os seus beneficiários, o capitalismo traz o melhor dos tempos: liberdade e prosperidade para todos, bem, talvez não para todos, mas pelo menos para os mais devotados a ele. Para os premidos de suas vontades, traz o pior dos tempos, incinerando as formas de vida comunais e tradicionais e oferecendo em troca vidas inteiras de servidões assalariadas e endividadas. Para os seus protagonistas, o capitalismo é o melhor dos mundos possíveis e não pode ser melhorado. Para os seus poucos antagonistas restantes, o capitalismo é o pior dos mundos possíveis, mas a última sociedade de classes remanescente, antes da derrocada final do domínio de classe. Mas isso agora é mais uma vontade de poder do que uma estratégia real.

Em todo caso, a narrativa histórica de alguma maneira ficou presa na ideia fixa de que existe uma coisa chamada capitalismo e que somos todos peças móveis dentro dessa máquina eterna. Tudo o que é sagrado é profanado – exceto o ideal do capitalismo em si mesmo. Isso se tornou uma espécie de ideia fixa. Para os seus beneficiários, porque o sistema no qual eles se beneficiam precisa ser arranjado para parecer natural; para os seus detratores, porque a única saída que eles podem imaginar para outra vida é a partir do capitalismo. Assim, de maneira realmente ideológica, eles insistem que, embora as aparências do capitalismo mudem, a essência permanece a mesma. Isso é ainda capitalismo? Ou é, na verdade, algo pior?

Houve um tempo em que estava na moda pensar que o capitalismo já havia sido superado[2]. Tais teorias são agora um tanto embaraçosas. Durante a Guerra Fria, aquelas máquinas de escrever que datilografavam a serviço das potências do capitalismo ocidental precisavam de uma narrativa histórica para competir com outras, desenvolvida pelos supostos Estados socialistas, que afirmavam ter entrado em um estágio histórico para além do capitalismo em que suas relações de classe seriam abolidas. Assim, os apologistas ocidentais emprestaram de seus rivais a ideia de uma forma histórica além do capitalismo, que colocaria um fim para o conflito de classes. Chamaram isso de sociedade da informação ou sociedade do conhecimento ou sociedade pós-industrial – qualquer coisa, na verdade, menos capitalismo.

Com o colapso dos chamados estados socialistas, desintegram-se tais narrativas históricas que ansiavam a existência de um estágio histórico para além do capitalismo. Praticamente todo mundo intitula capitalismo novamente. Contudo, no final do século XX, não parece mais o capitalismo básico e sem alteração do passado, de tal modo que novas adjetivações tiveram de ser invocadas para explicar suas estranhas aparências. Era então o capitalismo tardio, o neocapitalismo, o capitalismo neoliberal, o capitalismo pós-fordista, o capitalismo pós-moderno, o capitalismo biopolítico, o semicapitalismo, o capitalismo cognitivo, e assim por diante.

A opção de narrativa histórica que foi com menos frequência ensaiada é a de que esta sociedade continua sendo de exploração e de classe dominante – só não mais exatamente ou inteiramente de tipo capitalista[3]. Talvez uma parte dela possa ser razoavelmente descrita como capitalista, mas talvez haja alguma forma nova – se não menos exploradora – empilhando-se em cima da anterior. Afinal, fica claro nos escritos políticos de Marx que ele pensava as formações sociais como constituídas por múltiplos modos de produção, dos quais apenas um poderia ser denominado capitalista. Os outros, pensava, eram residuais, como os resquícios do feudalismo; ou marginais, como as formas simples de produção de mercadorias.

Algumas vertentes teóricas do capitalismo-adjetivado sustentam que houve um momento decisivo no qual o capitalismo não mais governou de maneira formal esses outros modos de produção, mas, na verdade, subsumiu-os em relações de produção capitalistas propriamente ditas. Porém, eles tendem a adiar um pensamento histórico sobre isso: tudo que é sólido se desmancha no ar – exceto o capitalismo, que continua para sempre e como sempre o mesmo. Dura para sempre, uma vez que somente o proletariado pode negá-lo. A história não pode ser imaginada enquanto mudanças de fases de nenhuma outra maneira.

O proletariado como agente negador assumiu diferentes formas em diferentes épocas. Pôde ser o trabalhador industrial, o trabalhador de massa, a multidão da fábrica social, as massas do mundo colonial, e assim por diante. Às vezes, é uma questão de alianças, dos operários e camponeses, ou dos operários e estudantes. Às vezes, é uma questão de agentes da esfera da reprodução, tal como as agências anticapitalistas feminista e queer. Às vezes, o agente da negação é fundado mais na dominação racial do que na exploração de classe[4]. De qualquer modo, o que tais teorias têm em comum é a ideia fixa de que o capitalismo só chega a um fim quando é negado pela força de uma agência vinda de baixo.

Levando a cabo isso, é preciso tomar como fixo algo o que para Marx era apenas uma tendência, e talvez uma tendência não realizada: a polarização de toda formação social em somente duas classes antagônicas. É um problema bem estudado que, do lado perdedor dessa equação, a identidade de classe não é completamente esclarecida. As diferenças entre os trabalhadores não se tornam menos agudas. Os problemáticos “estratos médios” obscurecem a imagem da classe. As diferenças de raça e gênero também não podem ser descartadas. O nacionalismo e a identidade religiosa persistem obstinadamente em reivindicar a lealdade dos oprimidos[5].

Mesmo entre aqueles que prestaram muita atenção para as diferenças entre os oprimidos e que se esforçaram para mapear como as mudanças no modo de produção modificam os tipos de trabalhadores que trabalham nele, há pouca atenção para as complexidades e mudanças entre as classes dominantes. Tais são genericamente denominadas apenas como capital, com dois ou três outros subgrupos brutos. Há um capital industrial e um capital financeiro, por certo, mas isso é tudo.

Assim, para resumir nossas propostas heréticas de imaginação histórica, apresentamos três: talvez pensar em mudança histórica seja uma questão de múltiplas classes e conflitos de classes; talvez outras classes além do capital e trabalho possam ser pensadas enquanto agentes motores de mudança histórica; e talvez até mesmo dentro do capitalismo possa surgir um novo conflito de classe.

Isso pode parecer herético em relação ao Capital de Marx, que examina apenas de maneira simplificada, sobre o modo de produção capitalista e suas formas binárias de capital e trabalho. Contudo, pode não ser maneira tão original de pensar a partir dos escritos políticos de Marx, por exemplo, sobre as séries de revoluções na França. Tratava-se de uma multiplicidade de classes, pelas quais uma classe burguesa emergente mobilizava os camponeses e artesãos para realizarem os interesses burgueses como se fosse o interesse geral. O surgimento do movimento operário foi um longo aprendizado na revolução, sob a tutela de outra classe, antes de ser capaz de articular seus próprios interesses e métodos – ainda que brevemente – no momento da Comuna de Paris.

A ideia de divisões entre as classes dominantes também não é tão nova assim. Em retrospectiva, pode ser útil diferenciar a classe capitalista e sua contraparte rural, uma classe latifundiária. A transformação das antigas propriedades feudais, dos camponeses pagando dízimos em espécie, para as várias formas de arrendamento nas quais os agricultores pagavam o aluguel em dinheiro é, em certos aspectos, um momento histórico completamente distinto do surgimento de uma indústria e da formação de classes capitalista e trabalhadora com base na relação salarial.

Segunda Natureza

Na obra de David Ricardo, o principal conflito de classe é, de fato, um conflito intraclasse, entre proprietário de terra e capitalista[6]. Quanto mais os proprietários de terras excedentes souberem capturar na forma de renda, menos haverá para os capitalistas capturarem na forma de lucro. Permanecendo a terra em tamanho fixo, a economia da renda se comporta de maneira bem diferente da economia do lucro. O aumento da demanda eleva os arrendamentos, e nenhum novo incremento de terra pode surgir para reduzir os arrendamentos. O aumento da demanda eleva os lucros, mas o lucro é derivado da indústria, que não tem oferta fixa. O aumento dos lucros atrai os competidores para o mercado retornando os lucros para os padrões históricos.

Indústria é, em certo sentido, mais abstrata que a terra. Um pedaço de terra é aquilo que é e está onde está – um topos. Uma porção de indústria é bem fungível e móvel. Particularmente após a ascensão dos combustíveis fósseis como fonte de energia, a indústria ocorre em um espaço topográfico mais abstrato, necessitando apenas estar no ponto ótimo dos fluxos de energia, trabalho e matérias-primas. É neste sentido que se pode dizer que a indústria cria uma segunda natureza: um ambiente construído que não mais segue e forma os contornos e topos da terra, mas sim os transforma em um plano topográfico abstrato.

Assim, poder-se-ia contar uma narrativa histórica sobre o passado não apenas envolvendo múltiplas classes e não apenas conflitos entre classes dominantes e dominadas, mas também conflitos entre as próprias classes dominantes. E talvez existam mais. E se a tendência histórica para um ambiente cada vez mais abstrato de produção e exploração social não parasse com a indústria? Em quais condições se poderia dizer que existe um novo tipo de classe dominante?

Aqui poderia ser útil pensar de que modo a produção industrial de mercadorias pode diferir da produção agrária de mercadorias. Essa última já é uma espécie de abstração. Retira do campesinato seus antigos direitos e obrigações para com uma propriedade particular. Cria não apenas os camponeses, mas também as terras equivalentes e permutáveis. E eventualmente desfaz o título hereditário do senhor da terra. Pertencer à classe dominante não é mais um direito hereditário.  São varridas as particularidades do lugar, ou direitos, deveres e costumes.

Mas ainda há certa fixidez na produção de mercadoria agrária. A terra é a terra. Um lugar é um lugar. Um topos é um topos. Permanece uma paisagem com entornos fixos que o agricultor forma, mas não realmente transforma. Dela saem os fluxos de produtos agrícolas, mas de uma área completamente estável.

A indústria é diferente. Especialmente quando há fluxos de carvão, grãos e mão-de-obra, e as estruturas de aço para transportá-las, surge uma topografia mais abstrata e maleável. A indústria perfaz um novo diagrama no antigo terreno. As cidades se expandem para absorver a mão-de-obra agora excedente no campo. Tal mão-de-obra é colocada para trabalhar nas novas fábricas, abastecidas por ferrovias e canais com matérias-primas e alimentos das colônias.

Esta é a época em que a cidade arrebata o poder político e econômico do campo, usando os primeiros frutos rudimentares de uma tão logo sistemática instrumentalização da própria natureza – uma tecnologia industrial. Capital e trabalho transformam o outrora sólido mundo da vida rural no mundo líquido da segunda natureza industrial.

A transição da produção feudal para a produção mercantil na agricultura pode ser principalmente uma mudança nas formas de propriedade, mas a criação da produção mercantil na indústria exigiu um pouco mais do que isso. Foi uma transformação não somente das relações, mas também das forças de produção. Vale a pena notar aqui o papel que a escassez desempenhou. Com as minas cada vez mais profundas e as florestas sob o machado, foi necessária uma aplicação considerável de engenhosidade técnica para manter a produção em andamento. O complexo carvão-vapor-ferro surgiu da escassez de recursos naturais, mas ao mesmo tempo produziu uma natureza completamente diferente[7].

Essa segunda natureza, embora em alguns aspectos uma terreno mais abstrata, tinha certas vulnerabilidades que poderiam ser aproveitadas por uma classe trabalhadora em ascensão. O que tornou a greve uma arma eficaz foi que a indústria dependia do fluxo constante de recursos, de carvão e matérias-primas e de produtos acabados que chegavam rapidamente ao mercado. Esses fluxos poderiam ser interrompidos nos principais pontos estreitos. A segunda natureza era uma rede estreita – portos e ferrovias – de coisas grandes – minas e fábricas – e podia ser interrompida em seu elo mais fraco. O trabalho organizado conquistou suas vitórias – a jornada de oito horas, o direito de se organizar, o sufrágio universal, o estado de bem-estar, até mesmo a Revolução de Outubro – não tanto por meio de qualquer ideologia ou forma organizacional, mas pelo uso real ou potencial desse poder para fechar a infraestrutura de segunda natureza[8].

Se a tecnologia a partir da qual se construiu a segunda natureza foi primeiro a industrial e depois a militar, no caso da terceira natureza ocorreu o contrário. A Segunda Guerra Mundial foi a grande incubadora da tecnologia da informação, que posteriormente desempenhou um papel significativo também na Guerra Fria. A princípio, do projeto de produtos complexos ao controle de estoques e à logística de distribuição, a tecnologia da informação possibilitou formas industriais de organização em escala expandida.

Mas quando o sistema fordista de produção e consumo em massa encalhou no final do século XX, essa mesma tecnologia da informação forneceu os meios para contornar suas limitações[9]. Em particular, reduziu muito a força de trabalho. O poder dos operários era de interromper os fluxos – da linha de montagem, das matérias-primas, da fonte de energia. A tecnologia da informação poderia substituir o trabalho na produção e fornecer uma rede mais flexível e redundante que permitiria ao capital industrial mover seus locais de produção para longe da militância trabalhista ou direcionar fluxos de materiais longe de possíveis bloqueios. Esta é a era da automação, da desqualificação e da fábrica fugidia[10]. Este foi o lado negativo das fábulas históricas da sociedade da informação como o fim da luta de classes.

A Classe Vetorialista

A derrota do trabalho teve um preço para a classe capitalista. Significava ceder parte de seu poder a um novo tipo de classe dominante. Uma classe que não dependia mais da terra ou da indústria como fonte de riqueza. Seu ativo de trabalho era a própria informação. A separação da indústria da terra produziu o terreno abstrato da segunda natureza. A separação da informação da indústria produziu um terreno ainda mais abstrato de terceira natureza.

O capital derrotou o trabalho. Chamam frequentemente essa época de “neoliberalismo”, mas tal termo obscurece mais do que explica. Ideias não fazem história, e certamente não ressuscitam ou estendem velhas ideias. Como foi possível contornar materialmente a força do trabalho? Tem a ver com os poderes de um novo tipo de terreno, funcionando em um novo tipo de infraestrutura.

A segunda natureza ainda é bastante topográfica, pois a localização da indústria ainda está ligada a características da paisagem, como portos naturais ou depósitos de carvão e ferro. A terceira natureza é bem mais topológica, na medida em que a densa rede de informações que cobre o território permite que a paisagem seja esticada, comprimida, dobrada e torcida em novas formas – pelo menos para fins de atividade econômica. Torna-se uma densa rede de coisas bem mais temporárias. O mundo líquido da segunda natureza, com seus fluxos canalizados de capital, trabalho, energia, recursos e bens, realmente se vaporiza em um novo estado, um tanto mais gasoso.

A terceira natureza torna-se um envelope de fluxos de informação que duplica não apenas a paisagem natural, mas também a segunda natureza. Ainda tem alguns laços com a topografia, é claro. As velhas cidades de segunda natureza tornam-se centros de informação. Os vastos data centers que continuarão a crescer rapidamente no início do século XXI exigem ainda grandes quantidades de energia e acesso a água para resfriamento. Mas toda essa nova infraestrutura também produz um espaço topológico no qual as informações passam a controlar a movimentação e a implantação dos recursos industriais, que por sua vez comandam a extração e a implantação dos recursos naturais.

Tudo o que era sólido e depois líquido finalmente se desmancha no ar. O espaço torna-se uma topologia na qual qualquer ponto pode se conectar a qualquer outro. Uma linha de atividade econômica torna-se um vetor, no sentido de que pode, em princípio, ser implantada em qualquer lugar. Conecte um fornecedor de materiais a um local de processamento com um vetor. Se o fornecimento se tornar errático, mova o vetor para se conectar com um fornecedor diferente. Se a mão de obra no local de processamento se tornar difícil, mova o vetor novamente, conectando o novo fornecedor a um novo local de processamento. Se a empresa capitalista que faz o processamento quer muito lucro, mude para outra[11]. Castells descreve a transição de um espaço de lugares para um espaço de fluxos, ou o que chamo de terceira natureza.

Não apenas o trabalho perde seu poder no terreno da terceira natureza. O mesmo acontece com a classe capitalista. Aqui o capital deve ser entendido no sentido específico da classe proprietária dos meios de produção. Em muitos casos, isso não é mais um locus de poder. O vetor pode contornar não apenas o trabalho, mas também o capital. O poder ascendente sobre o trabalho e o capital é a classe vetorialista. Não controla mais a terra ou a indústria, apenas a informação. Ele não reivindica sua parte do excedente como renda ou lucro, mas como juros[12].

A forma mais antiga da classe vetorialista é a finança, mas no passado seu poder sempre foi relativo. A segunda natureza não apoiava o uso da informação como meio de controle absoluto. É somente com a produção de uma infraestrutura na qual a informação se separa de seus estratos materiais, podendo ser canalizada com eficiência para qualquer lugar do planeta, armazenada a um custo insignificante, processada facilmente em padrões complexos, que a classe vetorialista se destaca.

As finanças se encontram unidas a outros tipos de controle pela informação – a partir do controle de patentes, dos direitos autorais e marcas, das cadeias de suprimentos a partir da logística, do controle da distribuição espacial dos recursos por meio de SIG ou, mais recentemente, do controle de acesso às informações sobre o cenário mutável de pessoas e coisas –, tornando todos eles endereçáveis.

O poder da classe vetorialista está na acumulação de juros, que neste contexto significa não apenas o retorno do investimento de informações na forma de dinheiro, mas de qualquer informação excedente, adquirida por meio de trocas desiguais de informações. Seu poder agora é global. Baseada principalmente no mundo superdesenvolvido da Europa e nos Estados Unidos, a classe vetorial prospera extraindo informações excedentes em escala global. Raramente possui os meios de produção. A fabricação real das coisas pode ser terceirizada.

É claro que os produtores capitalistas desafiam o poder vetorial, mas principalmente tentando obter acesso ao controle da informação por conta própria – e, portanto, escapando da indústria capitalista e tornando-se eles próprios vetorialistas. Primeiro no Japão, depois na Coréia e depois na China, as empresas manufatureiras tentaram adquirir o poder simbólico das marcas, as patentes de processos tecnológicos sofisticados, a eficiência do trabalho controlado por dados e das cadeias de suprimentos, para livrar-se do problema de possuir meios de produção mais rotineiros.

A Classe Hacker

A classe vetorial permitiu que a classe capitalista derrotasse o trabalho, mas a classe vetorialista tem seus próprios problemas com uma classe subordinada. O problema não é dominar a classe que forma a natureza, ou que transforma a segunda natureza, mas que informa a terceira natureza. Vamos chamá-los de classe hacker. A extração de interesse das trocas desiguais de informações requer a produção constante de novas informações. A produção de novas informações é tarefa da classe hacker. O fato de essa produção ocorrer dentro de uma relação de classe decorre da contenção da produção de novas informações em versões recém-elaboradas da forma de propriedade privada.

Ao longo do final do século XX, a chamada propriedade intelectual emergiu dos tradicionais direitos autorais e patentes e gradualmente tornou-se essencialmente um conjunto de direitos de propriedade totalmente privados. A produção de novas informações enquanto informação é baseada em uma separação técnica do fluxo de informação de seu substrato material, de modo que, embora a informação ainda não exista fora de um substrato material, sua relação com esse substrato torna-se abstrata. O potencial desse desenvolvimento é então restringido e canalizado por meio de elaborações da forma de propriedade privada.

Mas a produção de propriedade intelectual, como a produção de qualquer coisa, requer cooperação e colaboração. A fonte de toda produção passa pelo que é comum. Assim como o latifundiário em relação ao agricultor, e o capitalista em relação ao trabalhador, a classe vetorialista tem que separar a classe hacker daquilo que suas ações colaborativas realizam.

Mais uma vez, os bens comuns são fechados ou retidos por meio de uma esfera subordinada da qual a mercantilização extrai suas reservas. A diferença desta vez é que os bens comuns são potencialmente compartilháveis infinitamente. Terra ou bens podem ser escassos, mas a informação é apenas artificialmente escassa em uma era de custos de cópia e arquivamento em queda livre. Daí que um dos grandes movimentos sociais do final do século XX em diante se dedique a tornar a informação comum. A informação quer ser gratuita, mas está por toda parte acorrentada.

Liberdade com e de informação é a utopia da classe hacker. Vale a pena mencionar quatro estratégias para controlar a classe hacker. Em primeiro lugar, a aristocracia hacker: um pequeno grupo é encorajado a se ver não como parte de uma classe, mas como membro de uma elite. Eles são generosamente recompensados e, às vezes, compartilham uma participação na empresa vetorialista por meio de opções de ações ou bônus. Em segundo lugar, a rotinização: a própria infraestrutura vetorial é projetada para separar algumas posições especializadas de controle do trabalho de rotina, por sua vez separadas em partes discretas. A programação orientada a objetos, por exemplo, é projetada dessa maneira. Em terceiro lugar, a desterceirização [in-sourcing]. Se a terceirização envia um trabalho interno para outro trabalhador, no exterior, a desterceirização atribui o trabalho do hacker a qualquer um que desempenhe a tarefa gratuitamente. Assim, o esforço cooperativo e os bens comuns da informação são tratados como um recurso do qual se extrai interesse. Por fim, se tudo isso falhar, o hacker pode ser criminalizado, preso ou forçado ao exílio.

A dominação do hacker pelo vetorialista está incorporada no próprio design da infraestrutura dentro da qual a classe hacker opera. Essa dominação vai muito além da dominação superestrutural pela ideologia do capitalista sobre o trabalhador, ou da dominação pela religião do latifundiário sobre o agricultor. De fato, todas as classes rivais têm que operar dentro de uma infraestrutura cada vez mais projetada para as especificações da classe vetorial, que não apenas subordina a classe hacker a ela, mas também a todas as outras classes.

Em suma, então, a história dos modos de produção mercantilizados pode ser pensada como passando por três estágios sobrepostos, cada um dos quais acarreta uma bifurcação em duas classes que polarizam o campo social. Cada estágio desse campo tem sua própria qualidade. A ascensão da indústria e a luta entre trabalhador e capitalista produzem uma topografia mais abstrata, uma segunda natureza. A ascensão da informação e a luta entre hacker e vetorialista produzem uma topologia ainda mais abstrata, uma terceira natureza. Este espaço torna-se uma topologia global em que quase qualquer ponto pode se conectar a qualquer outro, mobilizando recursos em escala planetária.

Em cada estágio, o campo do conflito de classes pode ter certa polaridade entre classes dominantes e dominadas, mas todas as classes das três “naturezas” interagem, como se estivessem em um jogo de xadrez tridimensional. Em muitos casos, o principal conflito de classe pode ocorrer entre diferentes classes dominantes. A unidade das três classes dominadas também nunca pode ser garantida. Elas não são uma multidão, mas classes distintas com diferentes funções no processo produtivo.

Com esse entendimento, é possível reformular um debate um tanto confuso sobre a possibilidade de imaginar a mudança histórica em termos de uma força que negaria o impulso implacável da mercantilização, ou melhor, o aceleraria em direção ao seu fim. Nenhum dos dois casos, como veremos, oferece muito hoje para renovar a imaginação histórica.

Particularmente na tradição marxista ocidental ou hegeliana, o proletariado é uma força que supostamente nega o capital[13]. O proletariado irrompe de dentro da forma de mercadoria que o aprisiona enquanto outra coisa e assim realiza sua plena subjetividade e humanidade universal. O ato particular de bloqueio que é a greve é, portanto, um precursor ou um limite para pensar o bloqueio total como um ato de vontade do proletariado como sujeito revolucionário da história, surgindo e recusando sua objetificação.

Com o fracasso das revoluções do final dos anos 60, Deleuze, Guattari, Lyotard e Negri começaram a pensar mais em termos de uma aceleração do capitalismo para o seu fim[14]. Esta foi realmente uma franca admissão da fraqueza do trabalho e da perda de seu poder de bloquear e parar, quanto mais negar totalmente, os fluxos da vida mercantilizada. A ideia era, ao contrário, levar o desenvolvimento do capitalismo ao seu limite, o que de fato parecia ter ocorrido.

Para seus detratores, a aceleração cheira demais ao muito ridicularizado, embora nunca claramente explicado, outro mal que é o neoliberalismo. Parece muito próximo da ideologia que em nossos termos é uma fração da classe vetorialista, aquela que afirma ser sobre “tecno” e que quer girar, interromper e geralmente destruir criativamente o mundo por diversão e interesse. No entanto, pode-se apontar que, de diferentes formas, essa ideologia também é sobre negação. É que a ascendência da classe vetorialista quer destruir os últimos vestígios de poder, tanto do capital quanto do trabalho, e subordinar ambos ao controle por meio da informação.

O problema é que tanto a negação quanto a aceleração são formas limitadas de imaginação histórica. A negação é uma figura que pressupõe a existência apenas de uma segunda natureza. Existe apenas o capital e sua negação pelo proletariado. A aceleração é uma figura que pressupôs existir apenas uma terceira natureza. Existe apenas a abstração além da segunda natureza. Não é uma forma de imaginação histórica que compreendeu o desenvolvimento de novas relações de classe neste terreno.

Negação e aceleração negligenciam o problema dos limites da transformação da natureza pela segunda e terceira natureza. A imaginação histórica da negação faz do social um fetiche, como se não estivesse incorporadas em ambas, na natureza e na técnica. A imaginação histórica da aceleração em suas versões anteriores faz do desejo um fetiche, e em suas iterações posteriores, uma racionalidade técnica. O desejo nunca é pensado junto com a necessidade; a racionalidade nunca é pensada através da forma de propriedade e, portanto, das relações de classe em que aparece na terceira natureza.

Nenhum dos dois tinha muito a dizer sobre as vastas fendas metabólicas que se abrem pela operação da segunda e da terceira natureza em seu substrato natural[15]. A mais conhecida delas são os fluxos moleculares de dióxido de carbono e metano na atmosfera, causados por combustíveis fósseis e gado. O desenvolvimento intensivo da segunda natureza, seguido pelo domínio de todos e quaisquer recursos do mundo que a terceira natureza permite, causa retroalimentação entrópica em todo o processo global de produção e reprodução[16]. De fato, a classe vetorialista agora se alimenta da própria desordem entrópica que produz. Assim, a história humana, social e técnica não pode mais ser imaginada independentemente da história natural.

Somente uma aliança de todas as classes subordinadas poderia aspirar enfrentar esse desenvolvimento potencialmente catastrófico da terceira natureza sob o domínio da classe vetorialista. Tal aliança precisaria identificar com clareza novas vulnerabilidades, já que poucos dos antigos pontos estreitos da fábrica ou mesmo da “fábrica social” da cidade podem “descarrilar” um poder que não depende de trilhos, mas da topologia mais flexível de vetor de informação. Pode ter sido simbolicamente e poeticamente útil dizer “ocupar Wall Street” – mas é bem mais difícil de fazer na prática. Como você ocupa uma abstração?

Pensar a história em termos de negação e aceleração deixa muitas coisas fora do quadro. São visões que não apenas negligenciam certas características-chave da terceira natureza, mas também perdem o que é crucial em nossos tempos sobre a própria natureza. A era da terceira natureza é aquela que comanda não apenas toda a segunda natureza como um recurso, mas também toda a natureza. Além disso, toda a natureza torna-se o escape, o dissipador de calor, a lixeira, para todos os resíduos entrópicos de uma escala agora planetária de produção social abstrata.

E se a história não puder ser negada nem acelerada? Talvez a segunda e a terceira natureza tenham sido construídas de forma tão ampla e profunda que não há como contornar essa infraestrutura. Assim, enquanto a economia mercantil continua avançando, em seu próprio ritmo implacável, ela forma agentes de qualquer classe à sua própria imagem e os obriga a trabalhar nas formas que ela determina. E se até mesmo a classe vetorialista tivesse pouco poder sobre sua própria criação?

Isso seria pensar então na inércia da história. Jean-Paul Sartre oferece um relato brilhante disso, em sua linguagem distinta, aqui traduzida para a linguagem deste texto[17]. O esforço social coletivo, primeiro na agricultura, depois na indústria e depois na informação, construiu uma infraestrutura acima e contra si moldando assim esses esforços contínuos em suas formas calcificadas. Tudo o que é sólido pode se dissolver no ar, mas precipita-se do estado gasoso para o estado sólido novamente como mais do mesmo.

A forma da mercadoria leva o trabalho a criar não apenas o produto do momento, mas uma infraestrutura que perdure e que tenha a forma da mercadoria embutida em si mesma. Assim, molda a ação por dentro e através dela, em sua própria forma, despojando o esforço coletivo de seu caráter social e roubando-lhe a capacidade de mudá-lo. A ação torna-se, mesmo como ação, uma forma de passividade, na qual cada ação aparece separada de todas as outras, como mera ação individual, para a qual só pode haver recompensas individuais.

Portanto, não há negação, pois a infraestrutura em si não oferece muito para uma ação que possa enfrentá-la com uma quebra qualitativa em sua forma. E, portanto, não há aceleração, pois as infraestruturas de segunda e terceira natureza determinam o ritmo em que a mudança deve acontecer e, além disso, molda a mudança como simplesmente mais do mesmo. A aceleração não é mais capaz de produzir uma ruptura qualitativa do que a negação.

Tal paráfrase de Sartre é tão sombria quanto a original, se não exatamente na mesma rica linguagem. Sartre tinha alguma esperança de um tipo de ação que fundiria as vontades individuais e as tiraria da separação solipsista e desconexa umas das outras. Para Sartre, esse é o grupo fundido – uma ideia que aparece de forma modificada enquanto o momento subjetivo de Guattari ou o evento formador-de-sujeito de Badiou.

De qualquer forma, essa linha de pensamento sobre a ação histórica ainda aposta fortemente em uma ação humana coletiva, ou mesmo em uma racionalidade pós-humana por dentro e contra uma infraestrutura cuja própria forma absorve e torna inerte tal atividade. O paradoxo da terceira natureza é, portanto, que ela de fato acelera e prolifera transações de tipo mercantilizado, mas sempre do mesmo tipo. A flexibilidade e precariedade que gera na superfície é o efeito de uma profunda e ampla imobilidade infraestrutural.

É aqui que a capacidade disruptiva do esforço coletivo, seja o motim dos agricultores, a greve dos trabalhadores ou o exploit do hacker, deve ser reconhecida como uma visão limitada e unilateral de ação histórica[18]. O que nos leva a um quarto termo, implícito como uma lacuna deixada na matriz dos outros três. Se a tentativa de negar ou acelerar a história esbarra na inércia da infraestrutura sobre a qual ela funciona, então talvez não se trate de frear ou acelerar essa infraestrutura, mas de projetar outra diferente.

As infraestruturas de segunda e terceira natureza assumiram a forma de troca de mercadorias e a incorporaram a todos os aspectos da vida cotidiana. O design de algo diferente precisa ir atrás de outro lugar. Talvez a história natural das formas possa aqui socorrer a história social das formas, agora que estas se tornaram clones infindáveis e servidores de uma forma, apenas de uma natureza cada vez mais abstrata.

Este é um caminho perigoso, pois é quase impossível evitar projetar voltar às formas naturais os hábitos de pensamento de segunda natureza e agora de terceira natureza. Na era industrial, o capitalismo liberal e a máquina a vapor moldaram a imagem da natureza como um livre mercado darwiniano. Em nosso tempo, o vetorialismo neoliberal e o computador moldam uma imagem diferente da natureza, mas nem por isso é uma questão de substituir as imagens do mundo da produção pela própria natureza como uma luta pequeno-burguesa de “genes egoístas”.

O que significaria, pois, entender a natureza do ponto de vista não das classes dominantes, mas dos dominados? Pensar a natureza como o agricultor, o trabalhador ou o hacker, como práticas simbióticas de transformação, respectivamente, de matéria, energia e informação? Seria possível usar as lutas coletivas dos três estágios da economia mercantil para criticar as visões de mundo dominantes que surgiram sobre a natureza, mas indo além? A tarefa da imaginação histórica é seguir em frente, procurando extrapolar acerca do que se pode saber das formas naturais e as possíveis morfologias para o desenho de uma nova infraestrutura[19].

Assim, as más notícias: o rolo compressor que é a terceira natureza não pode ser negado, pois sua própria forma é dedicada a contornar quaisquer pontos específicos nos quais a ação possa ser eficaz. Também não pode ser acelerado. Não há classe subordinada em posição de pressioná-lo mais longe ou mais rápido do que ele vai por conta própria. Pensar a história do ponto de vista do produto, e não dos produtores, inverte o quadro e mostra que o peso cumulativo que o esforço coletivo construiu é a pedra no caminho para a sua própria transformação.

O que sobra apenas a opção de reconfigurá-lo em tempo real. Isso exigiria uma ação colaborativa entre as classes subordinadas. As diferenças entre essas classes não podem ser eliminadas pela marca da multidão ou pela imposição por decreto algum tipo de universalismo filosófico. Significa uma abordagem para a construção de coalizões que é mais sobre agentes econômicos do que meramente políticos, como na maioria das versões de democracia radical[20]. É hora de construir uma nova infraestrutura dentro das ruínas da antiga.

Notas

[1] Karl Marx e Friedrich Engels, “Manifesto of the Communist Party,” em Karl Marx, The Revolutions of 1848 (London: Verso, 2010), 70. Ver também: Marshall Berman, All That Is Solid Melts Into Air: The Experience of Modernity (New York: Penguin, 1988).

[2] Richard Barbrook, Imaginary Futures: From Thinking Machines to the Global Village (London: Pluto Press, 2007).

[3] Embora esse tenha sido o caminho percorrido em meu A Hacker Manifesto (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2004). Ver também: Richard Barbrook, The Class of the New (London: Mute, 2006), sobre as várias tentativas anteriores de reimaginar a classe.

[4] Ver, por exemplo: Dennis Altman, Oppression and Liberation (Brisbane: University of Queensland Press, 2012); Shulamith Firestone, The Dialectic of Sex (London: Verso, 2015); Cedric Robinson, Black Marxism (Chapel Hill, NC: University of North Carolina Press, 2000).

[5] Erik Olin Wright, Classes (London: Verso, 1998).

[6] David Ricardo, On the Principles of Political Economy and Taxation (Cambridge: Cambridge University Press, 1962).

[7] J. D. Bernal, Science in History Vol. 2 (Cambridge, MA: MIT Press, 1978).

[8] Timothy Mitchell, Carbon Democracy (Brooklyn: Verso, 2013).

[9] Para economias políticas de segunda e terceira natureza, ver respectivamente: Michel Aglietta, A Theory of Capitalist Regulation (London: Verso, 2001); Yann Moulier Boutang, Cognitive Capitalism (Cambridge: Polity Press, 2012).

[10] Ver David Noble, America By Design: Science, Technology and the Rise of Corporate Capitalism (New York: Oxford University Press, 1979).

[11] Ver Manuel Castells, Communication Power (Oxford: Oxford University Press, 2013).

[12] Dan Schiller, How To Think About Information (Champaign-Urbana, IL: University of Illinois Press, 2010), tem um belo relato da luta para acabar com o monopólio da telefonia nos Estados Unidos no final do século XX, que li como uma tentativa fracassada de reduzir o poder de uma classe vetorialista em ascensão.

[13] Ver, por exemplo, Georg Lukács, History and Class Consciousness (Cambridge, MA: MIT Press, 1972) e Guy Debord, The Society of the Spectacle, trad. Donald Nicholson-Smith (New York: Zone Books, 1994). Curiosamente, o último livro é apenas parcialmente uma teoria da história como negação. O capítulo final, sobre o desvio, aponta em outras direções.

[14] Benjamin Noys, Malign Velocities (Winchester: Zero Books, 2014); #Accelerate: The Accelerationist Reader, eds. Robin Mackay e Armen Avanessian (Falmouth: Urbanomics, 2014).

[15] Sobre fenda metabólica, veja: John Bellamy Foster, Marx’s Ecology: Materialism and Nature (New York: Monthly Review Press, 2000); John Bellamy Foster et al., The Ecological Rift (New York: Monthly Review Press, 2010).

[16] Ver Robert Biel, The Entropy of Capitalism (Chicago: Haymarket Books, 2013).

[17] Jean-Paul Sartre, Critique of Dialectical Reason, Vol. 1 (London: Verso, 2004).

[18] Sobre as formas pré-capitalistas de revolta, ver Eric Hobsbawm, Primitive Rebels (Londres: Norton, 1965). Sobre as formas de revolta da classe hacker, ver Alex Galloway e Eugene Thacker, The Exploit (Minneapolis: Minnesota University Press, 2007) e Gabriella Coleman, Hacker, Hoaxer, Whistleblower, Spy (Brooklyn: Verso, 2014).

[19] Eu tomo o conceito de extrapolação de Joseph Needham, Time: The Refreshing River (London: Allen & Unwin, 1948).

[20] Para um balanço clássico de democracia radical, ver Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, Hegemony and Socialist Strategy (London: Verso, 2014).